quarta-feira, março 24, 2004

Já estamos em dois mil e quatro. Grande.
Acho que só agora conseguimos olhar pra trás e perceber com mais clareza o estilo dos anos que já passaram, porque certas coisas que nos são comuns hoje certamente causariam muito espanto em alguma época anterior.

Há dez anos atrás, era a vez de Pulp Fiction. Aquele foi um filme "cara" dos anos 90. Desde Urge Overkill cantando aquela música-tema de vários amassos no sofá "Girl You'll Be A Woman Soon" até um revival da discoteca, estava tudo ali, afinal, em essência.

Dentre tantos outros filmes "Anos 90" que poderíamos citar, como Trainspotting, Exterminador do Futuro 2, Kids, e um punhado de outros, vemos que um Oscar não é uma condição para implementar uma subcultura. E, aos poucos, estamos assistindo o molde cultural cinematográfico mais uma vez engendrando novos filhotes, que quase sem perceber invadem nossas gírias e conversas, para só conseguirem ser definitivamente "extraídos" daqui a uns dez anos, mais ou menos.

Particularmente não gosto de Matrix. Foi um algo de uma idéia mal aproveitada, e o "boom" que ela gerou rapidamente está morrendo, além de ter sido muito mais técnico do que propriamente ideológico e filosófico (essa sim teria sido uma grande arma do filme), e o que se seguiu foram filmes "matrix" e "não-matrix". Dispensável.
Mas agora, eis que surge algo de fato interessante. Um filme que prova que nem só de revoluções tecnológicas vive o cinema pop. Kill Bill é, de fato, um filme em potencial para ficar em nosso universo coloquial por um bom tempo, e que de forma direta ou indireta vai ser lembrado como algo interessante da "década 2000" (soa estranho falar assim, não?)

Antes de mais nada, devemos sempre entrar no clima do filme. Entender como o filme quer dizer o que diz. Kill Bill é um prato cheio, um anime em forma de filme de ação. E diverte como poucos. Trilha sonora inovadorae intocável, cenas de ação exquizidérrimamente protuberantes, roteiro bruto, uma Uma Thurman perfeita, lindas katanas-gillette e nada, absolutamente nada confortavelmente exibido, embora tudo esteja em seu devido lugar. Kill Bill tem o "punch", e apesar de não ser a "Paixão de Cristo", tem sangue, muito sangue.

Alias, esse tal "Paixão de Cristo", segundo sr.Mel Gibson...
Vi o filme na sexta feira de estréia, e de fato não me afastei muito da neutralidade. Como todos os filmes, tem seus altos e baixos, e como nem todos os filmes, tem suas polêmicas.
É um filme bem interessante, e tenta chegar bem perto do realismo cru, mas como todo filme de maneira nenhuma deve ser encarado como uma "verdade absoluta". As iniciativas de mostrar a tortura de Cristo de forma impactante, a ambientação impecável da época e os dialogos em aramaico do filme realmente chamam a atenção,mas aí que está o problema: chamam a atenção demais. O filme é muito mais centrado na física da tortura, o que seria proveitoso caso nao tivesse anulado quase completamente a mensagem por trás de todo aquele sofrimento, até porque ninguém duvida que a tortura romana fosse daquilo pra pior.
Para completar, um Jesus já caricato, um satanás à Marilyn Mansone um gostinho de "nossa, é isso? porque tanta polêmica?".

Proporções à parte, veja o filme, e mais do que isso, leia a Bíblia.



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