quinta-feira, outubro 04, 2007
terça-feira, outubro 02, 2007
"A Heroína, o primeiro opiáceo semi-sintético, foi sintetizado pela primeira vez em 1874, mas não foi aproveitado até sua redescoberta em 1897 por Felix Hoffman no complexo farmacêutico da Bayer, em Elberfeld, Alemanha. De 1898 até 1910 a heroína era vendida como um substituto não-viciante para a morfina, e como um remédio anti-tosse para crianças. Em 1902, suas vendas já correspondiam a 5% dos lucros da companhia (...)"
Tal qual está na Wikipedia, em inglês.
Fico imaginando quantas outras coisas absurdas nós não estamos consumindo e absorvendo hoje em dia em nossa onisciência científica que não estarão nos matando daqui a algumas décadas...
Daqui a 50 anos:
"Os meios de telecomunicação móvel, como o celular, aparelho de uso comum entre o final do século XX e início do século XXI, não possuíam quaisquer proteção anti-eletromagnetismo em suas torres de transmissão, e eram responsáveis por quase a metade dos lucros das empresas de telefonia na época (...)"
Tal qual está na Wikipedia, em inglês.
Fico imaginando quantas outras coisas absurdas nós não estamos consumindo e absorvendo hoje em dia em nossa onisciência científica que não estarão nos matando daqui a algumas décadas...
Daqui a 50 anos:
"Os meios de telecomunicação móvel, como o celular, aparelho de uso comum entre o final do século XX e início do século XXI, não possuíam quaisquer proteção anti-eletromagnetismo em suas torres de transmissão, e eram responsáveis por quase a metade dos lucros das empresas de telefonia na época (...)"
sábado, setembro 29, 2007
Sobre o U2...
Tenho a coleção toda, gosto desde pequeno.
Como todos os fãs sensatos, não gosto dos trabalhos mais novos.
Desde o zooropa, comprei todos os cds na mesma época que foram lançados, e envolvi minhas preocupações em todo o "hype" por trás de cada um.
Pessoalmente, o trabalho mais genial deles pra mim ainda é o Achtung Baby, que tenho não apenas como um marco na carreira do U2, mas também como um dos melhores possíveis na música pop. ( um dia dedico um post inteiro só para falar dele, prometo.). Como muita gente por aí, sou mais um daqueles que acha que o trabalho do U2 pós-Achtung não é mais a mesma coisa, e cada vez menos tenho me empolgado em acompanhar a trajetória nem-mais-tão musical da banda.
O Zooropa foi uma colcha de retalhos, praticamente um bebê prematuro da época da Zoo Tv. Tem a Stay (uma das baladas mais brilhantes ever) e mais um par de músicas muito boas, mas não é nem um pouco homogêneo.
O Pop foi crucificado por todo mundo da antiga, até que tentou mas não vi muita gente começar a gostar de U2 por causa dele não. há 10 anos atrás, onde "Téquino" era a palavra da vez na música, ninguém conseguiu entender direito (nem o próprio U2) como traduzir isso de forma positiva na música pop mainstream. Apesar das misconceptions, é um disco razoável, com músicas muito boas que acabaram underrated pelo negativismo dos esclerosados críticos. Continuo achando a Staring At The Sun muito chata, Playboy Mansion e Miami totalmente desnecessárias. Mas quem prestou atenção em Gone e Wake Up Dead Man encontrou seus bons momentos.
O "All That You Can't Leave Behind" é bem redondinho e conseguiu o que o Pop não fez: foi feito para vender e apresentou o U2 a toda uma nova geração de menininhos e menininhas por aí que não fazem a menor idéia de quanta projeção esses caras já tiveram antes disso. Acho pelo menos a metade do disco beeem chata e presa a fórmulas. Afinal, ficar aguentando aqueles gritinhos do Bono cantando "Walk oOoOon, Walk OoOooooOonn" é bem mais plausível para uma geração que conviveu com vozes de outras bandas medíocres processadas por computador do que para o pessoal que ouvia "Pride" acompanhando a letra traduzida na Showbiz
Já o último disco, esse do Bomb-sei-lá-o-quê, mal consegui escutar: entrou no cd player umas 3 vezes, depois nunca mais.
A maior pérola dos anos 2000 pro U2 até agora foi, na minha opinião, aquela música "Electrical Storm", que foi feita pra coletânea deles em 2002 e é absurdamente boa, seguida da "The Ground Beneath Her Feet" da trilha sonora do Million Dollar Hotel. Se os novos discos do U2 fossem apenas parecidos com essas 2 músicas, eles ainda teriam chances de bater o Achtung Baby.
Nossa, viu como sou fã? Olha o monte que eu escrevi...
quinta-feira, setembro 21, 2006
domingo, junho 26, 2005
Como todos já vieram a tomar consciência, sou eu uma pessoa cheia e chata do tal pessimismo.
Mas, agora dou uma razão lógica:
É melhor esperar que tudo dê errado, para pelo menos uma coisa dar certo, do que esperar que tudo dê certo, e a maioria das coisas dêem errado...
O prejuízo é bem menor no nosso trauma, convenhamos.
Mas, agora dou uma razão lógica:
É melhor esperar que tudo dê errado, para pelo menos uma coisa dar certo, do que esperar que tudo dê certo, e a maioria das coisas dêem errado...
O prejuízo é bem menor no nosso trauma, convenhamos.
sábado, março 05, 2005
De volta como nosso blog tão afamado e negativista,
Desta vez talvez nem tão negativo - já que o motivo do retorno envolve uma coisa "boa" - mas ainda sim com um toque de Murphy por viver no lugar errado desde ever.
Pois bem, normalmente quem parou neste blog possui algum bom conhecimento de música - evidenciado no profile do orkut, ou mesmo possa ser um navegador casual de blogs alheios (raça cada vez mais rara hoje em dia), e o que me diz da experiência é que esses andarilhos também tem algum bom gosto pra música.
Anyway, vou citar algumas bandas aqui, só algumas:
Nine Inch Nails, Junkie XL, Roni Size, New Order, Prodigy, BlackStar, UNKLE, Josh Wink, Miss Kittin, Roni Size, Cafe Tacuba, Snow Patrol, Keane, Wilco, Bright Eyes, New Order, Chemical Brothers, Weezer, Coldplay, GANG OF FOUR, BAUHAUS, COCTEAU TWINS.
Ok? Assimilado? Conhece ALGUMA delas?
E se eu disser que esse não é sequer METADE do line-up de um certo festival chamado Coachella Music Festival, que vai acontecer nos dias 30 de abril e 1 de maio desse ano (é, tudo isso e mais um pouco em somente DOIS dias), na California....
O detalhe, as três ultimas bandas, Cocteau, Bauhaus e Gang of Four, ja haviam acabado há ANOS, e estarão se reunindo APENAS PARA ESTE FESTIVAL. Milagre? Pois é. E ninguem aqui sabe como eu sou fã de Cocteau, claro.
Imagine, você naquela àrea verde e ensolarada, aquelas caixas de som enooormes, várias tendas, acabando de ver um show gótico do Bauhaus, indo comprar àgua e souvenirs, imaginando QUAL banda vc escolheria ver em alguns momentos: "será que quero ver Chemical Brothers ali naquela tenda ou, quem sabe, o New Order naquela outra daqui a pouco? Ah, não posso esquecer do Cocteau Twins logo mais, depois de pular um pouco no Snow Patrol...."
Nesses dois dias, mais do que nunca, eu trocarei minha preferência de Londres, e elegerei Los Angeles como o melhor lugar do mundo para se viver.
Ah, sim, o Rio vai ter Lenny Kravitz na praia dia 21, legal né?
Desta vez talvez nem tão negativo - já que o motivo do retorno envolve uma coisa "boa" - mas ainda sim com um toque de Murphy por viver no lugar errado desde ever.
Pois bem, normalmente quem parou neste blog possui algum bom conhecimento de música - evidenciado no profile do orkut, ou mesmo possa ser um navegador casual de blogs alheios (raça cada vez mais rara hoje em dia), e o que me diz da experiência é que esses andarilhos também tem algum bom gosto pra música.
Anyway, vou citar algumas bandas aqui, só algumas:
Nine Inch Nails, Junkie XL, Roni Size, New Order, Prodigy, BlackStar, UNKLE, Josh Wink, Miss Kittin, Roni Size, Cafe Tacuba, Snow Patrol, Keane, Wilco, Bright Eyes, New Order, Chemical Brothers, Weezer, Coldplay, GANG OF FOUR, BAUHAUS, COCTEAU TWINS.
Ok? Assimilado? Conhece ALGUMA delas?
E se eu disser que esse não é sequer METADE do line-up de um certo festival chamado Coachella Music Festival, que vai acontecer nos dias 30 de abril e 1 de maio desse ano (é, tudo isso e mais um pouco em somente DOIS dias), na California....
O detalhe, as três ultimas bandas, Cocteau, Bauhaus e Gang of Four, ja haviam acabado há ANOS, e estarão se reunindo APENAS PARA ESTE FESTIVAL. Milagre? Pois é. E ninguem aqui sabe como eu sou fã de Cocteau, claro.
Imagine, você naquela àrea verde e ensolarada, aquelas caixas de som enooormes, várias tendas, acabando de ver um show gótico do Bauhaus, indo comprar àgua e souvenirs, imaginando QUAL banda vc escolheria ver em alguns momentos: "será que quero ver Chemical Brothers ali naquela tenda ou, quem sabe, o New Order naquela outra daqui a pouco? Ah, não posso esquecer do Cocteau Twins logo mais, depois de pular um pouco no Snow Patrol...."
Nesses dois dias, mais do que nunca, eu trocarei minha preferência de Londres, e elegerei Los Angeles como o melhor lugar do mundo para se viver.
Ah, sim, o Rio vai ter Lenny Kravitz na praia dia 21, legal né?
sexta-feira, dezembro 31, 2004
Aproveitando a última vez que a data destes posts mostrarão o ano de 2004...
Céus, como eu odeio Reveillón.
É incrível, mas não tem como não ser pessimista. Todo mundo sabe que nessa época tudo fica uma zona, ainda mais no Brasil, ainda mais no Rio, e toda corja de gente desagradável passa a fazer as coisas mais desagradáveis possíveis - e eu, que não pertenço à este lugar, é quem sofre.
Eu não estou de branco, não pulo ondinhas, não me conecto em "energia positiva", sinto pena das vítimas do tsunami. Eu invejo - e muito - quem nessa hora está em um show em Londres, talvez com o New Order, ou o Radiohead, Muse, ou alguma banda maneira tocando, onde não existe cobertura da Globo, onde não tem praia, não tem contagem regressiva e muito menos essa farofada de fogos. Nesas horas gostaria simplesmente de dormir até amanhã, evitando todo o processo traumático de fazer sorriso falso e festejar algo sem motivo, distribuindo abraços e tapinhas com direito a pulinhos e comedeiras.
Deixei de estar perto de muitas pessoas de quem gosto nesta hora, depois de um ano que deixei de fazer muitas coisas úteis.
Dessa vez não deixo mensagens revigorantes, porque não tenho humor. Olhem na do ano passado que foi bem inspirada, e troquem o número do ano.
Céus, como eu odeio Reveillón.
É incrível, mas não tem como não ser pessimista. Todo mundo sabe que nessa época tudo fica uma zona, ainda mais no Brasil, ainda mais no Rio, e toda corja de gente desagradável passa a fazer as coisas mais desagradáveis possíveis - e eu, que não pertenço à este lugar, é quem sofre.
Eu não estou de branco, não pulo ondinhas, não me conecto em "energia positiva", sinto pena das vítimas do tsunami. Eu invejo - e muito - quem nessa hora está em um show em Londres, talvez com o New Order, ou o Radiohead, Muse, ou alguma banda maneira tocando, onde não existe cobertura da Globo, onde não tem praia, não tem contagem regressiva e muito menos essa farofada de fogos. Nesas horas gostaria simplesmente de dormir até amanhã, evitando todo o processo traumático de fazer sorriso falso e festejar algo sem motivo, distribuindo abraços e tapinhas com direito a pulinhos e comedeiras.
Deixei de estar perto de muitas pessoas de quem gosto nesta hora, depois de um ano que deixei de fazer muitas coisas úteis.
Dessa vez não deixo mensagens revigorantes, porque não tenho humor. Olhem na do ano passado que foi bem inspirada, e troquem o número do ano.
terça-feira, outubro 26, 2004
Nossa, meu blog anda pior que minha vida.
Abandonado, tadinho, largado em um canto escuro... olhem só para essas paredes!
Que sensação de estranheza, um ambiente já tão familiar, mas que se estratificou no mesmo, e hoje aos frangalhos do esquecimento. Mas não é culpa dele, tadinho, eu que não tenho criatividade para escrever tanto quanto antes.
Aliás, dizem que a criatividade está intimamente vinculada com a percepção, e que novos ambientes, novos lugares, novas pessoas, enfim, tudo de novo que você conhece estimula sua mente a trabalhar. O novo gera o novo (quase como dinheiro traz mais dinheiro).
Então, porque tanta banda nova faz tanta música ruim?
(Eu adoro essas minhas lógicas de condução de parágrafos... alguém consegue me entender?)
Abandonado, tadinho, largado em um canto escuro... olhem só para essas paredes!
Que sensação de estranheza, um ambiente já tão familiar, mas que se estratificou no mesmo, e hoje aos frangalhos do esquecimento. Mas não é culpa dele, tadinho, eu que não tenho criatividade para escrever tanto quanto antes.
Aliás, dizem que a criatividade está intimamente vinculada com a percepção, e que novos ambientes, novos lugares, novas pessoas, enfim, tudo de novo que você conhece estimula sua mente a trabalhar. O novo gera o novo (quase como dinheiro traz mais dinheiro).
Então, porque tanta banda nova faz tanta música ruim?
(Eu adoro essas minhas lógicas de condução de parágrafos... alguém consegue me entender?)
domingo, outubro 03, 2004
quarta-feira, setembro 08, 2004
Tá.
Eu sei.
Bons MESES sem aparecer.
Para escrever em um blog que mal será lido? Principalmente agora depois do advento fotolog/orkut. Quem, em sã consciência, iria entrar nas catacumbas da internet para achar um blog como este, sem imagens, sem apelações, sem cor-de-rosa de fundo e com um autor "Ki NaUm IxClevE AxIm"?
Bem, por pura preguiça de fazer um email e invadir as listas de meus amigos, preferi colocar aqui algo que acabei de ler, e deixá-los digerir de forma passiva - porque vai fazer sua cabeça trabalhar melhor. É meio grande, mas...
Dizem que foi uma pesquisa da Aol:
"As loucas baladas dos paulistinhas endinheirados"
Ecstasy, cocaína, maconha, champanhe, sexo grupal e muita arrogância. A reportagem da AOL acompanhou uma balada da "Geração $", formada por filhos da alta sociedade paulistana
Por Rodrigo Brancatelli
A estudante de Administração Nicole*, de 21 anos, estará daqui a algumas horas desmaiada no quarto 231 do Hospital Alvorada, na zona sul de São Paulo, com a sua calça Gucci suja de vômito e com um cateter na veia por meio do qual ela receberá altas quantidades de glicose para rebater o efeito do excesso de álcool. Nicole mal irá se lembrar de, no espaço de horas, ter fumado dois cigarros de maconha, tomado um ecstasy na forma de coração e outro na forma das orelhas do Mickey Mouse, bebido uma garrafa inteira de champanhe Möet et Chandon e ter feito sexo com dois garotos que nunca viu na vida.
"Comigo tem que ser assim mesmo. Tudo aos extremos", diz a garota, filha de um conhecido empresário do ramo têxtil. "Gosto de dar para um monte de caras, de misturar Prozac com champanhe, de cheirar cocaína até meu nariz sangrar. E não me importo com a sua opinião moralista, típica da classe média. Tenho dinheiro suficiente para não me preocupar com você ou com mais ninguém. A minha felicidade está na minha conta bancária", dizia ela ao repórter enquanto se preparava para a balada.
Nicole faz parte de uma geração escancaradamente frívola e preconceituosa, formada por filhos de gente muito rica. É a "Geração $", como eles gostam de se definir. Têm a vida inteira pela frente e nenhuma preocupação com assuntos que assombram outras pessoas, como falta de dinheiro ou necessidade de escolha de uma profissão para ganhar a vida. Não há limites para eles. O que mais querem é curtir a juventude com o que acham que têm direito, incluindo drogas, sexo e uma boa dose de sentimento de superioridade.
"Eu sou o tipo de pessoa que os pobres e a classe média odeiam porque posso torrar R$ 5 mil em um vestido para usar apenas uma vez e depois encostá-lo no armário", diz Nicole ao repórter. "Não consigo ficar assistindo tevê em casa ou trabalhando em algum escritório estúpido na frente de um computador. Estou acima disso tudo. O dinheiro dos meus pais me possibilita curtir a vida sem preocupações e sem falsos moralismos".
Enquanto fala da vida, Nicole manda o motorista do seu Mercedes preto se apressar. O relógio Armani no pulso, avaliado em R$ 2 mil, avisa que já passa das 23h e todos seus amigos devem estar esperando furiosos na frente da Disco - conhecida como a balada mais cara e restrita de São Paulo, no bairro de Vila Olímpia, zona Sul da cidade. É sábado à noite, e a noite de São Paulo nem imagina o que Nicole e seus endinheirados colegas vão aprontar.
"Demorei porque a besta da empregada esqueceu de passar a minha calça Gucci", brinca a garota com os amigos ao descer do carro. "Definitivamente não dá para confiar em pessoas de cabelo pixaim." Fernanda, filha de um banqueiro que mora no Rio de Janeiro e que mantém apartamento em São Paulo para temporadas, ri escandalosamente da observação da amiga Nicole. Além de compartilhar da visão do mundo, as duas são fisicamente parecidas. Morenas, baixinhas e superproduzidas. "Empregada é uma droga mesmo", diz a carioca de 20 anos que largou recentemente a faculdade de Publicidade e ainda não decidiu o quê estudará a seguir. Ela veste um modelito exclusivo assinado
pelo estilista Alexandre Herchcovitch. "Todas as empregadas são ignorantes. É por isso que elas têm de ganhar salário mínimo. É o valor da suas mediocridades."
Fernanda está acompanhada de mais três meninas que aparentam ter a mesma idade e de dois garotos já mais velhos, com mais ou menos 25 anos. Todos têm pais ilustres - duas são filhas de empresários bem sucedidos, a outra é herdeira de um fazendeiro do interior paulista, o garoto loiro é filho de político. Apenas um deles é uma incógnita. Seu nome é Carlos, e sua origem nunca foi colocada em discussão pelos colegas. "Um dia apareceu do nada em uma balada, dirigindo um Porshe Boxter e com muitos ecstasys no bolso. Não precisou explicar de onde vem para ser incluído na turma" explica Nicole.
A fila na frente da Disco quase dobra o quarteirão, mas uma nota R$ 50 na mão do segurança é o suficiente para que Nicole e seus amigos a furem. A entrada custa R$ 70 para homens e R$ 35 para mulheres, mas eles desembolsam mais R$ 100 cada um para ter direito a entrar no camarote. "Somos VIP's, merecemos tratamento diferenciado", diz Fernanda, enquanto abre uma garrafa de champanhe Möet et Chandon - a primeira de sete que serão consumidas na noitada, ao custo de R$ 120 cada.
No camarote, fica mais fácil para Carlos disfarçar uma carreira de cocaína que prepara em cima de uma mesinha de madeira. Os amigos brincam que ele tem o nariz nervoso, não consegue ficar um dia sequer longe do pó. Fernanda percebe o gesto e corre para filar um pouco da droga enquanto Nicole, do outro lado do camarote, amassa a roupa cuidadosamente escolhida com um rapaz mais velho que acabara de encontrar. Dias depois, procurada pela reportagem da AOL, a direção da Disco, por meio da assessoria de imprensa, diria que os clientes pegos com drogas no interior da casa são colocados para fora.
Depois de duas horas e R$ 890 gastos em bebidas, o grupo decide deixar a balada e procurar algum outro lugar para terminar a noite. Ou melhor, para começá-la de fato. "Vamos para a minha casa, hoje não tem ninguém lá, meus pais estão viajando", sugere Fernanda. "Podemos comprar umas bebidas, ligar para uns amigos e fazer a festa lá mesmo. Com quantas pessoas será que eu vou transar hoje?"
A idéia de Fernanda até que foi comportada para os seus padrões. Da última vez que convidou os amigos para ir até a sua casa no Jardim Lusitânia - uma mansão na zona Sul de São Paulo com três salas, sete quartos, duas cozinhas, um pátio que se derrama na parte dos fundos com a piscina, uma edícola destinada aos hóspedes dos donos da casa e, num canto, um canil, abrigo de três cães, dois deles belíssimos huskies siberianos -, ela pagou três prostitutas e dois garotos de programa para animar a reunião. De outra vez, fez uma vaquinha e comprou 100 gramas de cocaína. Tudo foi consumido na mesma noite. Os amigos da garota contam que ela, numa das baladas que deu, fez sexo com três amigos de infância na piscina, ao mesmo tempo, enquanto os vizinhos viam e ouviam tudo.
São quase três horas da madrugada e as pajeros, mercedes e BMW's começam a se enfileirar na porta do número 482. Em pouco tempo, há cerca de 25 jovens no local. Todos da turma são muito parecidos - os garotos vestem camisa de algum estilista famoso e caro, Herchcovitch, Sommer ou Haten, e calça jeans igualmente exclusiva, mas que pareça estar bem suja. Já as meninas só usam preto, sempre de marca estrangeira, e não desgrudam de suas bolsas Louis Vuitton abarrotadas de ecstasys, maconha e, eventualmente, camisinhas.
A festinha particular começa a esquentar com uísque 12 anos misturado com energéticos. Fumaça de charuto e música eletrônica tomam conta da sala principal da mansão de dois andares. Para deixar as meninas mais "soltinhas", os garotos preparam um drink especial com vodca, suco em pó light e comprimidos de ecstasy picados em pedacinhos microscópicos. Quando elas se derem conta, já estarão dançando coladinhas sem as blusas e dando beijos calientes umas nas outras, no meio da sala decorada com uns poucos móveis antigos, de estilo europeu.
Para a maioria delas, não faz a menor diferença saber se tomaram drogas misturadas à bebida porque a intenção é ficar doidas mesmo. "Essas garotas aí estão loucas para dar", aponta o estudante de Administração Thomás, de 22 anos, herdeiro de um médico famoso e amigo de longa data de Fernanda. "A única coisa que elas têm para fazer na vida é gastar o dinheiro da família. As mais novas, aliás, são as mais danadas. Eu, por exemplo, transei com muita menininha filha de 'sei-lá-quem' dentro do meu Civic ou em banheiros de baladas. Já 'tracei' muitas Lolitas Pilles por aí.
Balada na Disco em São Paulo
Thomás se refere à escritora francesa de 19 anos, que chocou o mundo ao descrever tudo o que se passa no mundinho milionário de Paris no seu livro de estréia, Hell. A tradução em português chegou às livrarias do Brasil no final de 2003 e vem ocupando lugar de destaque nas prateleiras das livrarias. Nascida em berço de ouro e patricinha assumida, Lolita Pille passou boa parte de sua vida torrando o dinheiro dos pais nas lojas mais caras da capital francesa, desrespeitando regras de trânsito, enchendo a cara em hotéis de luxo e dançando até de manhã nas boates da moda.
Quando se cansou da farra, a garota escreveu 224 páginas denunciando a sua geração da forma mais crua possível. A galera endinheirada de Paris não perdoou. Lolita Pille passou a ser barrada nas baladas VIP's. "A 200 km/h pelas ruas de Paris, onde não é bom caminhar quando estamos no volante, misturamos álcool com cocaína e cocaína com ecstasy", escreve. "Eu sou um produto da Think Pink Generation. Minha crença: seja bela e consuma. Sou a musa do deus 'Aparência', sob o altar do qual eu queimo alegremente todo mês o equivalente ao seu salário".
Os relatos de Lolita poderiam muito bem ter sido escritos pela paulistana Nicole, pela amiga Fernanda, ou por qualquer uma das meninas que dançam e se beijam sem blusa na sala de estar da casa de piso de mármore claro do bairro paulistano de Jardim Lusitânia. "Entrei numa boate aos 14 anos e nunca mais sai", confessa a escritora francesa em Hell, numa de suas muitas tiradas infanto-niilistas. "De qualquer maneira, o que fazemos é vergonhoso. (...) E daí? É você quem paga a conta? Enfim, por hora está bom para mim. Minha única preocupação é o vestido que vou usar hoje..."
O uso de drogas na mansão de Fernanda é tão disseminado que até cinzas de cigarro chegam a ser confundidas com cocaína - e cheiradas sem que ninguém note a diferença. Num canto da sala, três caras fumam maconha e dividem uma pedra de ice, droga sintética, derivada da anfetamina, que parece um cubo de gelo, sem se importar com a presença de um estranho, o repórter da AOL. Noutro, duas adolescentes que não aparentam ter mais de 15 anos cheiram um vidro inteiro de B-25, ou cloreto de metileno, mais conhecido como cola de acrílico. E isso sem falar nas cápsulas de efedrina, de efeito estimulante, oferecidas como se fossem balas de goma.
Nicole, então, já usou e abusou de tudo nesta festa. E mesmo assim ela ainda quer mais. Em uma só tacada, engole dois comprimidos de ecstasy que estavam jogados em cima da bancada americana, plantada no meio da espaçosa cozinha principal, toda equipada com eletrodomésticos em aço inox. Um comprimido é rosa na forma de coração e o outro azul na forma das orelhas do personagem Mickey Mouse. "Tô bem, tô bem, ainda tô sóbria", balbucia, pouco antes de tropeçar em uma cadeira e cair estatelada no chão.
Dois caras levantam Nicole e carregam o seu corpo praticamente inanimado para uma das suítes do primeiro andar da casa. É o quarto dos pais de Fernanda que a essa altura está chorando copiosamente no banheiro, em uma crise nervosa causada pela cocaína. Nicole acorda e puxa os dois garotos desconhecidos para a cama, tira as calças e começa a fazer sexo sem se preocupar com os olhares curiosos dos que estão olhando pela porta aberta. O show não dura muito tempo - minutos depois, Nicole levanta correndo e tenta chegar até o banheiro. Em vão. Ela acaba vomitando em cima de um dos garotos, no piso de mármore. Vomita tanto que sai até bile.
"Sério que eu fiz tudo isso mesmo?", perguntaria Nicole mais tarde, enquanto deixava o quarto 231 do Hospital Alvorada. O braço direito até dóia de tanta glicose que foi injetada na sua veia. Com olheiras enormes, sua amiga Fernanda só tinha forças para responder afirmativamente com a cabeça. "Que saco! Eu sempre apago nos melhores momentos. Mas tudo bem, semana que vem tem mais. Fê, você tem certeza que não foi um plantonistazinho de merda que me atendeu? Porque esses residentes não sabem de nada, ganham uma merreca... Não posso ser atendida por um imbecil qualquer."
Daria um belo exagero. Mas, quem vai botar a mão no fogo de que isso não acontece?
Eu sei.
Bons MESES sem aparecer.
Para escrever em um blog que mal será lido? Principalmente agora depois do advento fotolog/orkut. Quem, em sã consciência, iria entrar nas catacumbas da internet para achar um blog como este, sem imagens, sem apelações, sem cor-de-rosa de fundo e com um autor "Ki NaUm IxClevE AxIm"?
Bem, por pura preguiça de fazer um email e invadir as listas de meus amigos, preferi colocar aqui algo que acabei de ler, e deixá-los digerir de forma passiva - porque vai fazer sua cabeça trabalhar melhor. É meio grande, mas...
Dizem que foi uma pesquisa da Aol:
"As loucas baladas dos paulistinhas endinheirados"
Ecstasy, cocaína, maconha, champanhe, sexo grupal e muita arrogância. A reportagem da AOL acompanhou uma balada da "Geração $", formada por filhos da alta sociedade paulistana
Por Rodrigo Brancatelli
A estudante de Administração Nicole*, de 21 anos, estará daqui a algumas horas desmaiada no quarto 231 do Hospital Alvorada, na zona sul de São Paulo, com a sua calça Gucci suja de vômito e com um cateter na veia por meio do qual ela receberá altas quantidades de glicose para rebater o efeito do excesso de álcool. Nicole mal irá se lembrar de, no espaço de horas, ter fumado dois cigarros de maconha, tomado um ecstasy na forma de coração e outro na forma das orelhas do Mickey Mouse, bebido uma garrafa inteira de champanhe Möet et Chandon e ter feito sexo com dois garotos que nunca viu na vida.
"Comigo tem que ser assim mesmo. Tudo aos extremos", diz a garota, filha de um conhecido empresário do ramo têxtil. "Gosto de dar para um monte de caras, de misturar Prozac com champanhe, de cheirar cocaína até meu nariz sangrar. E não me importo com a sua opinião moralista, típica da classe média. Tenho dinheiro suficiente para não me preocupar com você ou com mais ninguém. A minha felicidade está na minha conta bancária", dizia ela ao repórter enquanto se preparava para a balada.
Nicole faz parte de uma geração escancaradamente frívola e preconceituosa, formada por filhos de gente muito rica. É a "Geração $", como eles gostam de se definir. Têm a vida inteira pela frente e nenhuma preocupação com assuntos que assombram outras pessoas, como falta de dinheiro ou necessidade de escolha de uma profissão para ganhar a vida. Não há limites para eles. O que mais querem é curtir a juventude com o que acham que têm direito, incluindo drogas, sexo e uma boa dose de sentimento de superioridade.
"Eu sou o tipo de pessoa que os pobres e a classe média odeiam porque posso torrar R$ 5 mil em um vestido para usar apenas uma vez e depois encostá-lo no armário", diz Nicole ao repórter. "Não consigo ficar assistindo tevê em casa ou trabalhando em algum escritório estúpido na frente de um computador. Estou acima disso tudo. O dinheiro dos meus pais me possibilita curtir a vida sem preocupações e sem falsos moralismos".
Enquanto fala da vida, Nicole manda o motorista do seu Mercedes preto se apressar. O relógio Armani no pulso, avaliado em R$ 2 mil, avisa que já passa das 23h e todos seus amigos devem estar esperando furiosos na frente da Disco - conhecida como a balada mais cara e restrita de São Paulo, no bairro de Vila Olímpia, zona Sul da cidade. É sábado à noite, e a noite de São Paulo nem imagina o que Nicole e seus endinheirados colegas vão aprontar.
"Demorei porque a besta da empregada esqueceu de passar a minha calça Gucci", brinca a garota com os amigos ao descer do carro. "Definitivamente não dá para confiar em pessoas de cabelo pixaim." Fernanda, filha de um banqueiro que mora no Rio de Janeiro e que mantém apartamento em São Paulo para temporadas, ri escandalosamente da observação da amiga Nicole. Além de compartilhar da visão do mundo, as duas são fisicamente parecidas. Morenas, baixinhas e superproduzidas. "Empregada é uma droga mesmo", diz a carioca de 20 anos que largou recentemente a faculdade de Publicidade e ainda não decidiu o quê estudará a seguir. Ela veste um modelito exclusivo assinado
pelo estilista Alexandre Herchcovitch. "Todas as empregadas são ignorantes. É por isso que elas têm de ganhar salário mínimo. É o valor da suas mediocridades."
Fernanda está acompanhada de mais três meninas que aparentam ter a mesma idade e de dois garotos já mais velhos, com mais ou menos 25 anos. Todos têm pais ilustres - duas são filhas de empresários bem sucedidos, a outra é herdeira de um fazendeiro do interior paulista, o garoto loiro é filho de político. Apenas um deles é uma incógnita. Seu nome é Carlos, e sua origem nunca foi colocada em discussão pelos colegas. "Um dia apareceu do nada em uma balada, dirigindo um Porshe Boxter e com muitos ecstasys no bolso. Não precisou explicar de onde vem para ser incluído na turma" explica Nicole.
A fila na frente da Disco quase dobra o quarteirão, mas uma nota R$ 50 na mão do segurança é o suficiente para que Nicole e seus amigos a furem. A entrada custa R$ 70 para homens e R$ 35 para mulheres, mas eles desembolsam mais R$ 100 cada um para ter direito a entrar no camarote. "Somos VIP's, merecemos tratamento diferenciado", diz Fernanda, enquanto abre uma garrafa de champanhe Möet et Chandon - a primeira de sete que serão consumidas na noitada, ao custo de R$ 120 cada.
No camarote, fica mais fácil para Carlos disfarçar uma carreira de cocaína que prepara em cima de uma mesinha de madeira. Os amigos brincam que ele tem o nariz nervoso, não consegue ficar um dia sequer longe do pó. Fernanda percebe o gesto e corre para filar um pouco da droga enquanto Nicole, do outro lado do camarote, amassa a roupa cuidadosamente escolhida com um rapaz mais velho que acabara de encontrar. Dias depois, procurada pela reportagem da AOL, a direção da Disco, por meio da assessoria de imprensa, diria que os clientes pegos com drogas no interior da casa são colocados para fora.
Depois de duas horas e R$ 890 gastos em bebidas, o grupo decide deixar a balada e procurar algum outro lugar para terminar a noite. Ou melhor, para começá-la de fato. "Vamos para a minha casa, hoje não tem ninguém lá, meus pais estão viajando", sugere Fernanda. "Podemos comprar umas bebidas, ligar para uns amigos e fazer a festa lá mesmo. Com quantas pessoas será que eu vou transar hoje?"
A idéia de Fernanda até que foi comportada para os seus padrões. Da última vez que convidou os amigos para ir até a sua casa no Jardim Lusitânia - uma mansão na zona Sul de São Paulo com três salas, sete quartos, duas cozinhas, um pátio que se derrama na parte dos fundos com a piscina, uma edícola destinada aos hóspedes dos donos da casa e, num canto, um canil, abrigo de três cães, dois deles belíssimos huskies siberianos -, ela pagou três prostitutas e dois garotos de programa para animar a reunião. De outra vez, fez uma vaquinha e comprou 100 gramas de cocaína. Tudo foi consumido na mesma noite. Os amigos da garota contam que ela, numa das baladas que deu, fez sexo com três amigos de infância na piscina, ao mesmo tempo, enquanto os vizinhos viam e ouviam tudo.
São quase três horas da madrugada e as pajeros, mercedes e BMW's começam a se enfileirar na porta do número 482. Em pouco tempo, há cerca de 25 jovens no local. Todos da turma são muito parecidos - os garotos vestem camisa de algum estilista famoso e caro, Herchcovitch, Sommer ou Haten, e calça jeans igualmente exclusiva, mas que pareça estar bem suja. Já as meninas só usam preto, sempre de marca estrangeira, e não desgrudam de suas bolsas Louis Vuitton abarrotadas de ecstasys, maconha e, eventualmente, camisinhas.
A festinha particular começa a esquentar com uísque 12 anos misturado com energéticos. Fumaça de charuto e música eletrônica tomam conta da sala principal da mansão de dois andares. Para deixar as meninas mais "soltinhas", os garotos preparam um drink especial com vodca, suco em pó light e comprimidos de ecstasy picados em pedacinhos microscópicos. Quando elas se derem conta, já estarão dançando coladinhas sem as blusas e dando beijos calientes umas nas outras, no meio da sala decorada com uns poucos móveis antigos, de estilo europeu.
Para a maioria delas, não faz a menor diferença saber se tomaram drogas misturadas à bebida porque a intenção é ficar doidas mesmo. "Essas garotas aí estão loucas para dar", aponta o estudante de Administração Thomás, de 22 anos, herdeiro de um médico famoso e amigo de longa data de Fernanda. "A única coisa que elas têm para fazer na vida é gastar o dinheiro da família. As mais novas, aliás, são as mais danadas. Eu, por exemplo, transei com muita menininha filha de 'sei-lá-quem' dentro do meu Civic ou em banheiros de baladas. Já 'tracei' muitas Lolitas Pilles por aí.
Balada na Disco em São Paulo
Thomás se refere à escritora francesa de 19 anos, que chocou o mundo ao descrever tudo o que se passa no mundinho milionário de Paris no seu livro de estréia, Hell. A tradução em português chegou às livrarias do Brasil no final de 2003 e vem ocupando lugar de destaque nas prateleiras das livrarias. Nascida em berço de ouro e patricinha assumida, Lolita Pille passou boa parte de sua vida torrando o dinheiro dos pais nas lojas mais caras da capital francesa, desrespeitando regras de trânsito, enchendo a cara em hotéis de luxo e dançando até de manhã nas boates da moda.
Quando se cansou da farra, a garota escreveu 224 páginas denunciando a sua geração da forma mais crua possível. A galera endinheirada de Paris não perdoou. Lolita Pille passou a ser barrada nas baladas VIP's. "A 200 km/h pelas ruas de Paris, onde não é bom caminhar quando estamos no volante, misturamos álcool com cocaína e cocaína com ecstasy", escreve. "Eu sou um produto da Think Pink Generation. Minha crença: seja bela e consuma. Sou a musa do deus 'Aparência', sob o altar do qual eu queimo alegremente todo mês o equivalente ao seu salário".
Os relatos de Lolita poderiam muito bem ter sido escritos pela paulistana Nicole, pela amiga Fernanda, ou por qualquer uma das meninas que dançam e se beijam sem blusa na sala de estar da casa de piso de mármore claro do bairro paulistano de Jardim Lusitânia. "Entrei numa boate aos 14 anos e nunca mais sai", confessa a escritora francesa em Hell, numa de suas muitas tiradas infanto-niilistas. "De qualquer maneira, o que fazemos é vergonhoso. (...) E daí? É você quem paga a conta? Enfim, por hora está bom para mim. Minha única preocupação é o vestido que vou usar hoje..."
O uso de drogas na mansão de Fernanda é tão disseminado que até cinzas de cigarro chegam a ser confundidas com cocaína - e cheiradas sem que ninguém note a diferença. Num canto da sala, três caras fumam maconha e dividem uma pedra de ice, droga sintética, derivada da anfetamina, que parece um cubo de gelo, sem se importar com a presença de um estranho, o repórter da AOL. Noutro, duas adolescentes que não aparentam ter mais de 15 anos cheiram um vidro inteiro de B-25, ou cloreto de metileno, mais conhecido como cola de acrílico. E isso sem falar nas cápsulas de efedrina, de efeito estimulante, oferecidas como se fossem balas de goma.
Nicole, então, já usou e abusou de tudo nesta festa. E mesmo assim ela ainda quer mais. Em uma só tacada, engole dois comprimidos de ecstasy que estavam jogados em cima da bancada americana, plantada no meio da espaçosa cozinha principal, toda equipada com eletrodomésticos em aço inox. Um comprimido é rosa na forma de coração e o outro azul na forma das orelhas do personagem Mickey Mouse. "Tô bem, tô bem, ainda tô sóbria", balbucia, pouco antes de tropeçar em uma cadeira e cair estatelada no chão.
Dois caras levantam Nicole e carregam o seu corpo praticamente inanimado para uma das suítes do primeiro andar da casa. É o quarto dos pais de Fernanda que a essa altura está chorando copiosamente no banheiro, em uma crise nervosa causada pela cocaína. Nicole acorda e puxa os dois garotos desconhecidos para a cama, tira as calças e começa a fazer sexo sem se preocupar com os olhares curiosos dos que estão olhando pela porta aberta. O show não dura muito tempo - minutos depois, Nicole levanta correndo e tenta chegar até o banheiro. Em vão. Ela acaba vomitando em cima de um dos garotos, no piso de mármore. Vomita tanto que sai até bile.
"Sério que eu fiz tudo isso mesmo?", perguntaria Nicole mais tarde, enquanto deixava o quarto 231 do Hospital Alvorada. O braço direito até dóia de tanta glicose que foi injetada na sua veia. Com olheiras enormes, sua amiga Fernanda só tinha forças para responder afirmativamente com a cabeça. "Que saco! Eu sempre apago nos melhores momentos. Mas tudo bem, semana que vem tem mais. Fê, você tem certeza que não foi um plantonistazinho de merda que me atendeu? Porque esses residentes não sabem de nada, ganham uma merreca... Não posso ser atendida por um imbecil qualquer."
Daria um belo exagero. Mas, quem vai botar a mão no fogo de que isso não acontece?
sexta-feira, março 26, 2004
quarta-feira, março 24, 2004
Já estamos em dois mil e quatro. Grande.
Acho que só agora conseguimos olhar pra trás e perceber com mais clareza o estilo dos anos que já passaram, porque certas coisas que nos são comuns hoje certamente causariam muito espanto em alguma época anterior.
Há dez anos atrás, era a vez de Pulp Fiction. Aquele foi um filme "cara" dos anos 90. Desde Urge Overkill cantando aquela música-tema de vários amassos no sofá "Girl You'll Be A Woman Soon" até um revival da discoteca, estava tudo ali, afinal, em essência.
Dentre tantos outros filmes "Anos 90" que poderíamos citar, como Trainspotting, Exterminador do Futuro 2, Kids, e um punhado de outros, vemos que um Oscar não é uma condição para implementar uma subcultura. E, aos poucos, estamos assistindo o molde cultural cinematográfico mais uma vez engendrando novos filhotes, que quase sem perceber invadem nossas gírias e conversas, para só conseguirem ser definitivamente "extraídos" daqui a uns dez anos, mais ou menos.
Particularmente não gosto de Matrix. Foi um algo de uma idéia mal aproveitada, e o "boom" que ela gerou rapidamente está morrendo, além de ter sido muito mais técnico do que propriamente ideológico e filosófico (essa sim teria sido uma grande arma do filme), e o que se seguiu foram filmes "matrix" e "não-matrix". Dispensável.
Mas agora, eis que surge algo de fato interessante. Um filme que prova que nem só de revoluções tecnológicas vive o cinema pop. Kill Bill é, de fato, um filme em potencial para ficar em nosso universo coloquial por um bom tempo, e que de forma direta ou indireta vai ser lembrado como algo interessante da "década 2000" (soa estranho falar assim, não?)
Antes de mais nada, devemos sempre entrar no clima do filme. Entender como o filme quer dizer o que diz. Kill Bill é um prato cheio, um anime em forma de filme de ação. E diverte como poucos. Trilha sonora inovadorae intocável, cenas de ação exquizidérrimamente protuberantes, roteiro bruto, uma Uma Thurman perfeita, lindas katanas-gillette e nada, absolutamente nada confortavelmente exibido, embora tudo esteja em seu devido lugar. Kill Bill tem o "punch", e apesar de não ser a "Paixão de Cristo", tem sangue, muito sangue.
Alias, esse tal "Paixão de Cristo", segundo sr.Mel Gibson...
Vi o filme na sexta feira de estréia, e de fato não me afastei muito da neutralidade. Como todos os filmes, tem seus altos e baixos, e como nem todos os filmes, tem suas polêmicas.
É um filme bem interessante, e tenta chegar bem perto do realismo cru, mas como todo filme de maneira nenhuma deve ser encarado como uma "verdade absoluta". As iniciativas de mostrar a tortura de Cristo de forma impactante, a ambientação impecável da época e os dialogos em aramaico do filme realmente chamam a atenção,mas aí que está o problema: chamam a atenção demais. O filme é muito mais centrado na física da tortura, o que seria proveitoso caso nao tivesse anulado quase completamente a mensagem por trás de todo aquele sofrimento, até porque ninguém duvida que a tortura romana fosse daquilo pra pior.
Para completar, um Jesus já caricato, um satanás à Marilyn Mansone um gostinho de "nossa, é isso? porque tanta polêmica?".
Proporções à parte, veja o filme, e mais do que isso, leia a Bíblia.
Acho que só agora conseguimos olhar pra trás e perceber com mais clareza o estilo dos anos que já passaram, porque certas coisas que nos são comuns hoje certamente causariam muito espanto em alguma época anterior.
Há dez anos atrás, era a vez de Pulp Fiction. Aquele foi um filme "cara" dos anos 90. Desde Urge Overkill cantando aquela música-tema de vários amassos no sofá "Girl You'll Be A Woman Soon" até um revival da discoteca, estava tudo ali, afinal, em essência.
Dentre tantos outros filmes "Anos 90" que poderíamos citar, como Trainspotting, Exterminador do Futuro 2, Kids, e um punhado de outros, vemos que um Oscar não é uma condição para implementar uma subcultura. E, aos poucos, estamos assistindo o molde cultural cinematográfico mais uma vez engendrando novos filhotes, que quase sem perceber invadem nossas gírias e conversas, para só conseguirem ser definitivamente "extraídos" daqui a uns dez anos, mais ou menos.
Particularmente não gosto de Matrix. Foi um algo de uma idéia mal aproveitada, e o "boom" que ela gerou rapidamente está morrendo, além de ter sido muito mais técnico do que propriamente ideológico e filosófico (essa sim teria sido uma grande arma do filme), e o que se seguiu foram filmes "matrix" e "não-matrix". Dispensável.
Mas agora, eis que surge algo de fato interessante. Um filme que prova que nem só de revoluções tecnológicas vive o cinema pop. Kill Bill é, de fato, um filme em potencial para ficar em nosso universo coloquial por um bom tempo, e que de forma direta ou indireta vai ser lembrado como algo interessante da "década 2000" (soa estranho falar assim, não?)
Antes de mais nada, devemos sempre entrar no clima do filme. Entender como o filme quer dizer o que diz. Kill Bill é um prato cheio, um anime em forma de filme de ação. E diverte como poucos. Trilha sonora inovadorae intocável, cenas de ação exquizidérrimamente protuberantes, roteiro bruto, uma Uma Thurman perfeita, lindas katanas-gillette e nada, absolutamente nada confortavelmente exibido, embora tudo esteja em seu devido lugar. Kill Bill tem o "punch", e apesar de não ser a "Paixão de Cristo", tem sangue, muito sangue.
Alias, esse tal "Paixão de Cristo", segundo sr.Mel Gibson...
Vi o filme na sexta feira de estréia, e de fato não me afastei muito da neutralidade. Como todos os filmes, tem seus altos e baixos, e como nem todos os filmes, tem suas polêmicas.
É um filme bem interessante, e tenta chegar bem perto do realismo cru, mas como todo filme de maneira nenhuma deve ser encarado como uma "verdade absoluta". As iniciativas de mostrar a tortura de Cristo de forma impactante, a ambientação impecável da época e os dialogos em aramaico do filme realmente chamam a atenção,mas aí que está o problema: chamam a atenção demais. O filme é muito mais centrado na física da tortura, o que seria proveitoso caso nao tivesse anulado quase completamente a mensagem por trás de todo aquele sofrimento, até porque ninguém duvida que a tortura romana fosse daquilo pra pior.
Para completar, um Jesus já caricato, um satanás à Marilyn Mansone um gostinho de "nossa, é isso? porque tanta polêmica?".
Proporções à parte, veja o filme, e mais do que isso, leia a Bíblia.
quarta-feira, março 10, 2004
Primeiro post efetivo do ano.
Depois de um mês de computador queimado, depois de substituída cada peça do dito cujo para descobrir que a única que estava efetivamente com defeito era a última que iria desconfiar - o processador (o que prova por A+B que Murphy sempre está certo).
Alegre momento informativo musical.
Por mais triste que fico cada vez que ando pelas bancas de mercado negro de cds raros importados no centro da cidade, não me contento em não conseguir comprar nada de novo, e vou eu lá na internet fuçar (por mais que eu prefira ter um cd "de verdade", com encarte bonitinho, cheirando a novo, etc)
Nestas fuçadas, descubro bandas como o Delerium, que magicamente me faz voltar como que aos meus treze anos de idade, quando cantarolava músicas dos anos 80 enquanto ia para o colégio de manhã. A pequena diferença é que agora estou alguns bons anos mais velho, mas ainda capaz de nutrir a mesma alegria quando ouço uma banda que produz música de qualidade suficientemente boa como esses caras. Daí me pergunto, porque que esse tipo de música não toca nas rádios daqui?
Dia desses estava reparando como tenho me tornado uma pessoa chata. Das 10 músicas farofas que aparecem nas rádios, eu detesto 11. Fico impressionado de como eu posso odiar tanta coisa, e vem minha consciência falar comigo "poxa, você está sendo crítico demais com os novos artistas da música pop brasileira e internacional, dê uma ouvida melhor!". E lá vou eu de novo, mais maleável, tentando escutar e me convencer de que essas músicas são boas e legais, e que eu estou me tornando insuportável. Mas não dá. Meia hora depois, vem minha consciência me dizer "é... não é você que está mal de ouvido, são essas músicas que estão ruins mesmo" e juntos, eu e minha consciência ficamos relembrando os bons tempos em que se ligava a rádio e se escutava "Black Hole Sun" do Soundgarden, "Lightning Crashes" do Live, ou até mesmo "Wonderwall" do Oasis e "Bittersweet Symphony" do Verve.
Gente, quem comeu a criatividade?
(tá, Evanescence é até legalzinho, mas só eles não fazem frente com tanta coisa ruim por aí...)
Ah, catem Delerium por aí.
Depois de um mês de computador queimado, depois de substituída cada peça do dito cujo para descobrir que a única que estava efetivamente com defeito era a última que iria desconfiar - o processador (o que prova por A+B que Murphy sempre está certo).
Alegre momento informativo musical.
Por mais triste que fico cada vez que ando pelas bancas de mercado negro de cds raros importados no centro da cidade, não me contento em não conseguir comprar nada de novo, e vou eu lá na internet fuçar (por mais que eu prefira ter um cd "de verdade", com encarte bonitinho, cheirando a novo, etc)
Nestas fuçadas, descubro bandas como o Delerium, que magicamente me faz voltar como que aos meus treze anos de idade, quando cantarolava músicas dos anos 80 enquanto ia para o colégio de manhã. A pequena diferença é que agora estou alguns bons anos mais velho, mas ainda capaz de nutrir a mesma alegria quando ouço uma banda que produz música de qualidade suficientemente boa como esses caras. Daí me pergunto, porque que esse tipo de música não toca nas rádios daqui?
Dia desses estava reparando como tenho me tornado uma pessoa chata. Das 10 músicas farofas que aparecem nas rádios, eu detesto 11. Fico impressionado de como eu posso odiar tanta coisa, e vem minha consciência falar comigo "poxa, você está sendo crítico demais com os novos artistas da música pop brasileira e internacional, dê uma ouvida melhor!". E lá vou eu de novo, mais maleável, tentando escutar e me convencer de que essas músicas são boas e legais, e que eu estou me tornando insuportável. Mas não dá. Meia hora depois, vem minha consciência me dizer "é... não é você que está mal de ouvido, são essas músicas que estão ruins mesmo" e juntos, eu e minha consciência ficamos relembrando os bons tempos em que se ligava a rádio e se escutava "Black Hole Sun" do Soundgarden, "Lightning Crashes" do Live, ou até mesmo "Wonderwall" do Oasis e "Bittersweet Symphony" do Verve.
Gente, quem comeu a criatividade?
(tá, Evanescence é até legalzinho, mas só eles não fazem frente com tanta coisa ruim por aí...)
Ah, catem Delerium por aí.
quarta-feira, dezembro 31, 2003
Fatos...
Para algum dia eu lembrar que houve um 31 de Dezembro... desta vez o de 2003.
Há dez anos atrás estava eu ganhando meu Super Nintendo, e pouco fazia senão jogar Super Mario World o dia inteiro, o que me consumia o tempo de ficar parado pensando na vida, refletindo sobre a passagem do próprio tempo.
Hoje meu brinquedo cresceu, evoluiu e se tornou um computador forte e sadio, com essa tal de internet para me tomar o mesmo tempo de antes, só que este agora um tempo novo. De qualquer maneira, nenhum dos dois volta atrás.
Há dez anos, em 94, minha vida era repleta de RPG, Dungeons & Dragons, aqueles livros-jogos do Peter Jackson, e logo em seguia ia pro terreno baldio catar insetos pra pregar no isopor do meu trabalho de biologia. Até os monstros do RPG eram mais bonitos.
O Tetra já vai fazer dez anos, com aquele gol de falta do Branco sobre a Holanda, que até hoje efeito especial algum da Light & Magic conseguirá imitar. Mas eles estão perdoados, pois sabem fazer bons sabres de luz.
A choradeira na escola pela morte do Senna já vai subir o degrau de uma década, e mesmo assim ainda lembro com clareza as músicas que eu gravava da rádio RPC no lado A daquela fita Chrome Extra da Basf, que julgava eu ser de uma qualidade sonora insuperável.
No Natal daquele ano, ganhei uma bicicleta, Aluminum da Caloi, que até hoje acho a bicicleta mais linda do mundo, com aquela cor de bronze metalizado que ninguém mais tinha, sobre a qual tentava altas manobras que me invejaria ver hoje em dia. Num mover de casas decimais, tento não deixar o carro morrer numa ladeira.
Engraçado isso. De repente sua vida vira um passado.
E todos os detalhes de sua existencia se tornam uma mera questão de reaprender coisas em níveis diferentes.
Conviver com pessoas novas, deixar de conviver com pessoas, fazer, tentar, coisas que um champanhe de ano novo jamais podem prever. Se em todos os anos se desejam sempre as mesmas coisas, que pelo menos cada um se valha pela individualidade.
Então, por bons e maus momentos, com Deus no comando, que 2004 seja sempre 2004.
Para algum dia eu lembrar que houve um 31 de Dezembro... desta vez o de 2003.
Há dez anos atrás estava eu ganhando meu Super Nintendo, e pouco fazia senão jogar Super Mario World o dia inteiro, o que me consumia o tempo de ficar parado pensando na vida, refletindo sobre a passagem do próprio tempo.
Hoje meu brinquedo cresceu, evoluiu e se tornou um computador forte e sadio, com essa tal de internet para me tomar o mesmo tempo de antes, só que este agora um tempo novo. De qualquer maneira, nenhum dos dois volta atrás.
Há dez anos, em 94, minha vida era repleta de RPG, Dungeons & Dragons, aqueles livros-jogos do Peter Jackson, e logo em seguia ia pro terreno baldio catar insetos pra pregar no isopor do meu trabalho de biologia. Até os monstros do RPG eram mais bonitos.
O Tetra já vai fazer dez anos, com aquele gol de falta do Branco sobre a Holanda, que até hoje efeito especial algum da Light & Magic conseguirá imitar. Mas eles estão perdoados, pois sabem fazer bons sabres de luz.
A choradeira na escola pela morte do Senna já vai subir o degrau de uma década, e mesmo assim ainda lembro com clareza as músicas que eu gravava da rádio RPC no lado A daquela fita Chrome Extra da Basf, que julgava eu ser de uma qualidade sonora insuperável.
No Natal daquele ano, ganhei uma bicicleta, Aluminum da Caloi, que até hoje acho a bicicleta mais linda do mundo, com aquela cor de bronze metalizado que ninguém mais tinha, sobre a qual tentava altas manobras que me invejaria ver hoje em dia. Num mover de casas decimais, tento não deixar o carro morrer numa ladeira.
Engraçado isso. De repente sua vida vira um passado.
E todos os detalhes de sua existencia se tornam uma mera questão de reaprender coisas em níveis diferentes.
Conviver com pessoas novas, deixar de conviver com pessoas, fazer, tentar, coisas que um champanhe de ano novo jamais podem prever. Se em todos os anos se desejam sempre as mesmas coisas, que pelo menos cada um se valha pela individualidade.
Então, por bons e maus momentos, com Deus no comando, que 2004 seja sempre 2004.
domingo, dezembro 21, 2003
O que afinal eh a certeza?
O fim de um ano se aproxima, destemido. Minhas memorias correm, loucas, de um lado para outro, colidindo informacoes conflitantes a respeito de um ano maluco que se finda. E a maior parte delas ainda acha que se trata de mais um 19xx...
Mas ja nao eh.
Tao certo como em outros anos, este ano tambem teremos retrospectivas, corridas de Sao Silvestre, fogos em Copacabana, especiais de Roberto Carlos, e mais quantos eventos a midia (leia-se Globo) julgar apropriados.
Tambem tivemos B'roz, Maria Rita e alguns outros, nos trazendo a certeza de um sucesso premeditado e "in"atural. No caso especÃfico de Maria Rita, nao eh sequer uma critica a sua capacidade criativa, mas uma dor de que o alarde que ela alcanca nao depende unicamente do talento da moca, mas de uma imposicao comercial exploratoria que poderia se dar exatamente da mesma maneira em diferentes epocas, com muitos outros artistas. Eh essa mesma, a formula do sucesso, que se extende repetidamente como uma cadência final que soh vai terminar com o seu dinheiro.
E teremos iemanjas aos montes em barquinhos brilhando a velas, com pedidos de uma paz que somente Deus pode conceder, simbolos de um Brasil cada vez mais confuso em seus caminhos e pessoas cada vez mais incertas do que acreditar. Deus tenha misericordia.
E tudo se baseia nisso, repeticoes. Ciclos de repeticoes. Essas que fixam uma musica em sua cabeca, essas que te deixam louco a cada vez que voces "dao um tempo", essas mesmas que voce jurou que eram a ultima vez.
E nunca de fato serao.
O fim de um ano se aproxima, destemido. Minhas memorias correm, loucas, de um lado para outro, colidindo informacoes conflitantes a respeito de um ano maluco que se finda. E a maior parte delas ainda acha que se trata de mais um 19xx...
Mas ja nao eh.
Tao certo como em outros anos, este ano tambem teremos retrospectivas, corridas de Sao Silvestre, fogos em Copacabana, especiais de Roberto Carlos, e mais quantos eventos a midia (leia-se Globo) julgar apropriados.
Tambem tivemos B'roz, Maria Rita e alguns outros, nos trazendo a certeza de um sucesso premeditado e "in"atural. No caso especÃfico de Maria Rita, nao eh sequer uma critica a sua capacidade criativa, mas uma dor de que o alarde que ela alcanca nao depende unicamente do talento da moca, mas de uma imposicao comercial exploratoria que poderia se dar exatamente da mesma maneira em diferentes epocas, com muitos outros artistas. Eh essa mesma, a formula do sucesso, que se extende repetidamente como uma cadência final que soh vai terminar com o seu dinheiro.
E teremos iemanjas aos montes em barquinhos brilhando a velas, com pedidos de uma paz que somente Deus pode conceder, simbolos de um Brasil cada vez mais confuso em seus caminhos e pessoas cada vez mais incertas do que acreditar. Deus tenha misericordia.
E tudo se baseia nisso, repeticoes. Ciclos de repeticoes. Essas que fixam uma musica em sua cabeca, essas que te deixam louco a cada vez que voces "dao um tempo", essas mesmas que voce jurou que eram a ultima vez.
E nunca de fato serao.
sexta-feira, novembro 21, 2003
To whom it may concern
Motivado talvez por um dos ultimos comentarios, percebi que nunca rascunhei nada sobre o subtitulo desse blog: "Meu pe de laranja mecanica".
Vou dar uma de "tio", e explicar o be-a-ba para quem nao souber mas tiver curiosidade...
Certa vez li uma entrevista do Deep Purple (numa dessas revistas de rock com folha de papel higienico), onde o entrevistador perguntou: "O que voces sentem ao ver adolescentes no seu show, cantando as musicas com a mesma desenvoltura daqueles que acompanharam sua carreira desde os anos 70?" e eles responderam, unanimes, que era uma coisa boa, pois afinal, a musica deles havia transpassado geracoes distintas, onde o mais interessante � que os jovens nao estavam unicamente atraidos pelas imortais "Smoke On The Water" ou "Highway Star", mas cantavam avidamente as musicas dos ultimos discos na mesma proporcao.
Imagine: diferentes geracoes, cada uma com sua interpretacao propria, unidas por um evento canalizador que nao era a apelacao das classicas musicas da decada de 70, nao era uma somente uma "transmissao hereditaria", e nem um disco em especifico, talvez nem a propria banda. Apenas a musica deles ja bastou. O nucleo sempre estava la, foi mastigado por cada um em sua propria maneira em diferentes epocas e marcou as pessoas. E nao foram poucas.
Nao me ouso considerar um fa de Deep Purple, mal tenho discos deles, mas achei que esse exemplo serviria para ilustrar a verdade que acontece com o filme Laranja Mecanica.
Lan�ado em 1972, dirigido por ninguem menos que Stanley Kubrick, proibido por anos em diversos paises, esse realmente foi um filme que passou por cima de tudo. Uma ebulicao cinematografica sobre juventude, violencia, limites, consequencias, e (principalmente) aparencias. Nao cabe fazer um resumo previsivel do filme aqui (eu jamais seria audacioso a esse ponto), mas acho que para um filme atravessar trinta anos e ainda se manter atual (e o pior: chocante), entao com certeza � um filme que vale a pena ser visto cada hora de um jeito, cada pessoa por seu pensamento, cada maquiagem por sua verdade.
Ahn, o titulo do blog? Sim...claro...
Meu cultivo de aparencias, assim como todo mundo que vive nos dias de hoje, onde somos uma pessoa diferente para cada pessoa que conhecemos, de maneira inconsciente, auto-defensiva.
Sobreviv�ncia.
Motivado talvez por um dos ultimos comentarios, percebi que nunca rascunhei nada sobre o subtitulo desse blog: "Meu pe de laranja mecanica".
Vou dar uma de "tio", e explicar o be-a-ba para quem nao souber mas tiver curiosidade...
Certa vez li uma entrevista do Deep Purple (numa dessas revistas de rock com folha de papel higienico), onde o entrevistador perguntou: "O que voces sentem ao ver adolescentes no seu show, cantando as musicas com a mesma desenvoltura daqueles que acompanharam sua carreira desde os anos 70?" e eles responderam, unanimes, que era uma coisa boa, pois afinal, a musica deles havia transpassado geracoes distintas, onde o mais interessante � que os jovens nao estavam unicamente atraidos pelas imortais "Smoke On The Water" ou "Highway Star", mas cantavam avidamente as musicas dos ultimos discos na mesma proporcao.
Imagine: diferentes geracoes, cada uma com sua interpretacao propria, unidas por um evento canalizador que nao era a apelacao das classicas musicas da decada de 70, nao era uma somente uma "transmissao hereditaria", e nem um disco em especifico, talvez nem a propria banda. Apenas a musica deles ja bastou. O nucleo sempre estava la, foi mastigado por cada um em sua propria maneira em diferentes epocas e marcou as pessoas. E nao foram poucas.
Nao me ouso considerar um fa de Deep Purple, mal tenho discos deles, mas achei que esse exemplo serviria para ilustrar a verdade que acontece com o filme Laranja Mecanica.
Lan�ado em 1972, dirigido por ninguem menos que Stanley Kubrick, proibido por anos em diversos paises, esse realmente foi um filme que passou por cima de tudo. Uma ebulicao cinematografica sobre juventude, violencia, limites, consequencias, e (principalmente) aparencias. Nao cabe fazer um resumo previsivel do filme aqui (eu jamais seria audacioso a esse ponto), mas acho que para um filme atravessar trinta anos e ainda se manter atual (e o pior: chocante), entao com certeza � um filme que vale a pena ser visto cada hora de um jeito, cada pessoa por seu pensamento, cada maquiagem por sua verdade.
Ahn, o titulo do blog? Sim...claro...
Meu cultivo de aparencias, assim como todo mundo que vive nos dias de hoje, onde somos uma pessoa diferente para cada pessoa que conhecemos, de maneira inconsciente, auto-defensiva.
Sobreviv�ncia.
domingo, novembro 02, 2003
Side Effects.
Ha dez anos atras, minha rede de contatos sociais era restrita aos meus colegas da quinta serie, dos quais uns 5 eram mais proximos, e meus colegas do curso de musica, somando mais uns 3.
Dois anos depois, ja entrava eu em meu curso de ingles, e meus amigos mais proximos ja circundavam o numero de 10 a 15.
Hoje, ja devo conhecer mais de umas 100 pessoas, e bem o suficiente para ter varios assuntos que consumiriam minutos suficientes para atrapalhar a fluidez do trafego de pedestres num eventual encontro de cal�ada.
Mas, quando eu olho pra internet, com quanta gente eu j� me comuniquei direta ou indiretamente atrav�s disso aqui, eu me assusto. E mais que isso, vejo como essa mega-rede de contatos jamais poderia ter sido prevista por mim ha dez anos atras, assim como eu nao posso prever a que propor��es isso chegara num futuro proximo. E o mais engra�ado eh justamente isso: as proprias referencias que usamos para prever uma coisa, no mundo tecnologico, sao variaveis em constante mudan�a.
Bem, a unica seguran�a eh afirmar que sera, de alguma forma, diferente. E que essa diferen�a sera, de alguma forma, grande.
Penso, em minha limitada perspectiva, na crianca de amanha. Que numa quinta serie da vida ja conhecera mais pessoas do que todas as que eu conheco hoje. E, imagine, que se hoje vemos pessoas fazendo coisas tao estupidas por conta da tal "influencia social", que propor�ao vai ter isso amanha?
Acho que vai ser cada vez mais dificil ser individual...
Ha dez anos atras, minha rede de contatos sociais era restrita aos meus colegas da quinta serie, dos quais uns 5 eram mais proximos, e meus colegas do curso de musica, somando mais uns 3.
Dois anos depois, ja entrava eu em meu curso de ingles, e meus amigos mais proximos ja circundavam o numero de 10 a 15.
Hoje, ja devo conhecer mais de umas 100 pessoas, e bem o suficiente para ter varios assuntos que consumiriam minutos suficientes para atrapalhar a fluidez do trafego de pedestres num eventual encontro de cal�ada.
Mas, quando eu olho pra internet, com quanta gente eu j� me comuniquei direta ou indiretamente atrav�s disso aqui, eu me assusto. E mais que isso, vejo como essa mega-rede de contatos jamais poderia ter sido prevista por mim ha dez anos atras, assim como eu nao posso prever a que propor��es isso chegara num futuro proximo. E o mais engra�ado eh justamente isso: as proprias referencias que usamos para prever uma coisa, no mundo tecnologico, sao variaveis em constante mudan�a.
Bem, a unica seguran�a eh afirmar que sera, de alguma forma, diferente. E que essa diferen�a sera, de alguma forma, grande.
Penso, em minha limitada perspectiva, na crianca de amanha. Que numa quinta serie da vida ja conhecera mais pessoas do que todas as que eu conheco hoje. E, imagine, que se hoje vemos pessoas fazendo coisas tao estupidas por conta da tal "influencia social", que propor�ao vai ter isso amanha?
Acho que vai ser cada vez mais dificil ser individual...
quinta-feira, outubro 23, 2003
No ultimo sabado, me senti como que simpatico por fazer coisas normais.
As vezes questiono muito tudo, e a simplicidade de certas ocasioes se dissipa, a inocencia se perde, e so o que sobra sao meus chatos resmungos. Entao, no sabado resolvi deixar isso de lado.
Recheado de boa vontade, fui a um Mc Donalds aqui perto. Sim, acho que desde que eu era crian�a que eu nao vou a um Mc Donalds de forma tao impune e sem peso na consciencia quanto nessa tal ocasiao.
Tudo bem...
Pedi um sundae simples, e uma porcao de batatas fritas, somente, no apice de meu minimalismo pratico.
Parece que os atendentes nao acreditam quando alguem pede uma coisa tao idiota. Eles quase se irritam por voce nao querer um super double bic mac, onde eles ja estariam mais que acostumados a falar "com refrigerante grande, senhor?" e que no meu caso nao funcionaria.
Pois bem... depois de ver que essas duas guloseimas custaram SEIS REAIS, fiz cara feia mas paguei (fazer o que...), e ainda tentava preservar minha simplicidade inabalavel do dia, quando a atendente me ofereceu o "GUIA NUTRICIONAL MC DONALDS".
Sendado a minha mesa, comecei a folear com calma o curioso guia e constatei novas verdades, dentre as quais:
- Um Big Mac tem apenas 490 calorias!!
- Um Quarteirao tem 30 gramas (60%) de proteinas diarias para um adulto!!
- Uma Coca 500ml possui saudaveis 53mg (15% na dieta diaria) de carboidratos!
- Um Milk Shake de 500ml nutre uma crian�a em 40% de suas necessidades diarias de proteina!!!
- Que "Todos os agricultores e pecuaristas fornecedores passam por uma certificacao inicial e auditorias periodicas que verificam a fidelidade ao padrao de qualidade exigido pelo Mc Donalds"
- Que "O cultivo das hortas eh feito por fornecedores regionais, para garantir que produtoes a base de salada estejam sempre no ponto certo"
- Que "Os sucos de laranja e maracuja sao NATURAIS e produzidos COM FRUTAS selecionadas"
-Que foi o Mc Donalds quem trouxe para o Brasil a inquestionavelmente superior alface americana.
- Que os paes do Mc Donalds sao VITAMINADOS e suprem 30% das necessidades de vitaminas B1, B3, B5 e B6
- Que as carnes sao 100% bovinas e nao utilizam NENHUM CONSERVANTE OU ADITIVO
- Que o Mc Chicken eh feito somente com partes NOBRES do frango, e que o Mc Fish eh feito com filet de merluzza (que contem acidos graxos polinsaturados tipo omega que ajudam a controlar a taxa de colesterol!!!!!!!!)
Arf...
Pois eh mamae, agora soh vou comer no Mc Donalds, porque alem de ser muito gostoso, tambem faz muito bem a minha saude, para que eu cres�a sendo um menino forte e saudavel!!!!
As vezes questiono muito tudo, e a simplicidade de certas ocasioes se dissipa, a inocencia se perde, e so o que sobra sao meus chatos resmungos. Entao, no sabado resolvi deixar isso de lado.
Recheado de boa vontade, fui a um Mc Donalds aqui perto. Sim, acho que desde que eu era crian�a que eu nao vou a um Mc Donalds de forma tao impune e sem peso na consciencia quanto nessa tal ocasiao.
Tudo bem...
Pedi um sundae simples, e uma porcao de batatas fritas, somente, no apice de meu minimalismo pratico.
Parece que os atendentes nao acreditam quando alguem pede uma coisa tao idiota. Eles quase se irritam por voce nao querer um super double bic mac, onde eles ja estariam mais que acostumados a falar "com refrigerante grande, senhor?" e que no meu caso nao funcionaria.
Pois bem... depois de ver que essas duas guloseimas custaram SEIS REAIS, fiz cara feia mas paguei (fazer o que...), e ainda tentava preservar minha simplicidade inabalavel do dia, quando a atendente me ofereceu o "GUIA NUTRICIONAL MC DONALDS".
Sendado a minha mesa, comecei a folear com calma o curioso guia e constatei novas verdades, dentre as quais:
- Um Big Mac tem apenas 490 calorias!!
- Um Quarteirao tem 30 gramas (60%) de proteinas diarias para um adulto!!
- Uma Coca 500ml possui saudaveis 53mg (15% na dieta diaria) de carboidratos!
- Um Milk Shake de 500ml nutre uma crian�a em 40% de suas necessidades diarias de proteina!!!
- Que "Todos os agricultores e pecuaristas fornecedores passam por uma certificacao inicial e auditorias periodicas que verificam a fidelidade ao padrao de qualidade exigido pelo Mc Donalds"
- Que "O cultivo das hortas eh feito por fornecedores regionais, para garantir que produtoes a base de salada estejam sempre no ponto certo"
- Que "Os sucos de laranja e maracuja sao NATURAIS e produzidos COM FRUTAS selecionadas"
-Que foi o Mc Donalds quem trouxe para o Brasil a inquestionavelmente superior alface americana.
- Que os paes do Mc Donalds sao VITAMINADOS e suprem 30% das necessidades de vitaminas B1, B3, B5 e B6
- Que as carnes sao 100% bovinas e nao utilizam NENHUM CONSERVANTE OU ADITIVO
- Que o Mc Chicken eh feito somente com partes NOBRES do frango, e que o Mc Fish eh feito com filet de merluzza (que contem acidos graxos polinsaturados tipo omega que ajudam a controlar a taxa de colesterol!!!!!!!!)
Arf...
Pois eh mamae, agora soh vou comer no Mc Donalds, porque alem de ser muito gostoso, tambem faz muito bem a minha saude, para que eu cres�a sendo um menino forte e saudavel!!!!
quinta-feira, outubro 09, 2003
Muito a gente ve acontecer nesse nosso pais.
Sao opinioes classicas da parte da populacao frases como "esse pais nao tem jeito" ou entao "politico nao presta".
Vivemos nesse nosso estado violento, com uma sucessao de governantes despreparados de todas as formas, alguns com lacos familiares e monetarios entre si... e as coisas piorando e piorando.
Porque eh Brasil, certo?
Errado.
Hoje pude ver que na California isso tambem acontece.
Cara, Schwarzenegger governador.
Eu nao acredito.
(Como americano eh burro.)
Sao opinioes classicas da parte da populacao frases como "esse pais nao tem jeito" ou entao "politico nao presta".
Vivemos nesse nosso estado violento, com uma sucessao de governantes despreparados de todas as formas, alguns com lacos familiares e monetarios entre si... e as coisas piorando e piorando.
Porque eh Brasil, certo?
Errado.
Hoje pude ver que na California isso tambem acontece.
Cara, Schwarzenegger governador.
Eu nao acredito.
(Como americano eh burro.)
domingo, setembro 21, 2003
A Sorte Da Iniciativa de um TImido.
Os timidos tem um grande bloqueio social. Um fato.
Mas alguns definem este bloqueio por certas condi��es.
Para mim, falar em p�blico � algo extremamente divertido e ao mesmo tempo uma situa��o classificada normalmente como "sob controle", pois tudo na vida social do desafortunado timido se resume a esses dois tipo de situa��o: as control�veis e as sem-controle.
Minha situa��o condicional � qualquer uma relacionada a conhecer pessoas novas. Tal situa��o s� se encontrar� sob controle quando, por exemplo, for descoberto algum "link" entre a feliz (e extrovertida) pessoa interlocutora e o timido, de tal maneira que haja uma linha de conversa suficientemente boa e fluente para pelo menos dar ao timido a falsa sensa��o do "ufa, estou sendo soci�vel". Mas claro que Murphy existe para nos alertar da realidade de que isso praticamente nunca acontece, e que se chegar a acontecer, ser� apenas por um momento, curto demais para convencer a pessoa interlocutora de que o timido � uma pessoa normal, receptiva, falante, divertida, interessante e inteligente.
Para uma solu��o imediata e funcional, o timido se vale de taticas, algumas um pouco crueis e auto-indulgentes, para ludibrirar o funcinonamento de sua percep��o negativista e fechada. Meu extremo para for�ar uma condi��o em meu c�rebro � o pensamento do tipo "ah poxa, todos vamos morrer, vivemos num planeta dentre muitos no universo, numa galaxia de 100 bilhoes de estrelas, uma dentre outras milhoes, e eu estou aqui me torturando se devo falar com a pessoa x ou n�o".
Dr�stico, por�m por vezes eficiente. A n�o ser, claro, que fatores totalmente externos e imprevisiveis ajam sobre o timido nessa tentativa de contato com seu mundo narcisista.
Duas vezes isso me aconteceu hoje:
Numa festa no consulado do Chile, me foi apresentada uma simpatica menina, mas por tempo curto o suficiente para impossibilitar qualquer inicio de conversa de maneira "natural". O timido, por um golpe do destino, encontra momentos mais tarde, esta mesma menina, j� antes apresentada, numa fila para pegar sobremesas. A situa��o perfeita surge, o timido se prepara para, de maneira mais natural possivel, quebrantar a barreira social e chamar a aten��o da menina atrav�s de algum coment�rio pr�-elaborado (juntamente com seu leque de respostas poss�veis). Quando o t�mido estica seu dedo para chamar a aten��o da menina, no mesmo instante um bra�o se interpoe entre o timido e a menina, e uma gorda senhora se enfia numa arrebatadora ca�a a uma deliciosa iguaria de maracuj�. Assim que o timido se recupera, a menina j� virou as costase saiu, e toda prepara��o foi perdida. O timido fracassa.
Apesar de derrotado, o timido se encontra em outra oportuna situa��o quando de noite, durante uma festa, o timido reencontra uma ex-colega, que o recebe de maneira muito simpatica e meiga. O timido, critico, logo fica encantado em como a menina havia mudado, e da maneira como ela ainda se lembra do inexpressivo timido apesar do tempo: o suficiente para servir como a condi��o que empolga o timido ao estado de uma pessoa comunicativa e logo, numa rara ocasiao, permitir que os dois iniciassem uma interessante e divertida conversa.
Querendo agradar a menina, o timido puxa uma cadeira para uma conversa mais confortavel, quando, no mais repente momento, surgem os animados e inconvenientes amigos (estes j� por demais conhecidos) do timido, e simplesmente se interpoe entre o timido e sua interlocutora, de modo que cortasse qualquer assunto e aten��o, recuando a pobre menina para uma outra amiga, esta sim por sorte localizada bem ao seu lado no meio da confus�o. Ruina. A unica palavra trocada depois do fato foi um mero "bom te ver de novo!", alguns minutos mais tarde, sem telefone, antes que partisse.
Timidos detestam ser interrompidos. Quer no silencio, quer em seu �pice comunicativo.
Os timidos tem um grande bloqueio social. Um fato.
Mas alguns definem este bloqueio por certas condi��es.
Para mim, falar em p�blico � algo extremamente divertido e ao mesmo tempo uma situa��o classificada normalmente como "sob controle", pois tudo na vida social do desafortunado timido se resume a esses dois tipo de situa��o: as control�veis e as sem-controle.
Minha situa��o condicional � qualquer uma relacionada a conhecer pessoas novas. Tal situa��o s� se encontrar� sob controle quando, por exemplo, for descoberto algum "link" entre a feliz (e extrovertida) pessoa interlocutora e o timido, de tal maneira que haja uma linha de conversa suficientemente boa e fluente para pelo menos dar ao timido a falsa sensa��o do "ufa, estou sendo soci�vel". Mas claro que Murphy existe para nos alertar da realidade de que isso praticamente nunca acontece, e que se chegar a acontecer, ser� apenas por um momento, curto demais para convencer a pessoa interlocutora de que o timido � uma pessoa normal, receptiva, falante, divertida, interessante e inteligente.
Para uma solu��o imediata e funcional, o timido se vale de taticas, algumas um pouco crueis e auto-indulgentes, para ludibrirar o funcinonamento de sua percep��o negativista e fechada. Meu extremo para for�ar uma condi��o em meu c�rebro � o pensamento do tipo "ah poxa, todos vamos morrer, vivemos num planeta dentre muitos no universo, numa galaxia de 100 bilhoes de estrelas, uma dentre outras milhoes, e eu estou aqui me torturando se devo falar com a pessoa x ou n�o".
Dr�stico, por�m por vezes eficiente. A n�o ser, claro, que fatores totalmente externos e imprevisiveis ajam sobre o timido nessa tentativa de contato com seu mundo narcisista.
Duas vezes isso me aconteceu hoje:
Numa festa no consulado do Chile, me foi apresentada uma simpatica menina, mas por tempo curto o suficiente para impossibilitar qualquer inicio de conversa de maneira "natural". O timido, por um golpe do destino, encontra momentos mais tarde, esta mesma menina, j� antes apresentada, numa fila para pegar sobremesas. A situa��o perfeita surge, o timido se prepara para, de maneira mais natural possivel, quebrantar a barreira social e chamar a aten��o da menina atrav�s de algum coment�rio pr�-elaborado (juntamente com seu leque de respostas poss�veis). Quando o t�mido estica seu dedo para chamar a aten��o da menina, no mesmo instante um bra�o se interpoe entre o timido e a menina, e uma gorda senhora se enfia numa arrebatadora ca�a a uma deliciosa iguaria de maracuj�. Assim que o timido se recupera, a menina j� virou as costase saiu, e toda prepara��o foi perdida. O timido fracassa.
Apesar de derrotado, o timido se encontra em outra oportuna situa��o quando de noite, durante uma festa, o timido reencontra uma ex-colega, que o recebe de maneira muito simpatica e meiga. O timido, critico, logo fica encantado em como a menina havia mudado, e da maneira como ela ainda se lembra do inexpressivo timido apesar do tempo: o suficiente para servir como a condi��o que empolga o timido ao estado de uma pessoa comunicativa e logo, numa rara ocasiao, permitir que os dois iniciassem uma interessante e divertida conversa.
Querendo agradar a menina, o timido puxa uma cadeira para uma conversa mais confortavel, quando, no mais repente momento, surgem os animados e inconvenientes amigos (estes j� por demais conhecidos) do timido, e simplesmente se interpoe entre o timido e sua interlocutora, de modo que cortasse qualquer assunto e aten��o, recuando a pobre menina para uma outra amiga, esta sim por sorte localizada bem ao seu lado no meio da confus�o. Ruina. A unica palavra trocada depois do fato foi um mero "bom te ver de novo!", alguns minutos mais tarde, sem telefone, antes que partisse.
Timidos detestam ser interrompidos. Quer no silencio, quer em seu �pice comunicativo.
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